1. segunda-feira, 30 de janeiro de 2017


    "Se tens um coração de ferro, bom proveito.
    O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

    José Saramago, em A segunda vida de Francisco de Assis.

  2. O que é São Paulo, afinal?

    quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

    São Paulo faz 463 anos hoje.

    São Paulo. Ah, São Paulo! Você era sinônimo de liberdade para uma Isabela sonhadora aos 15 anos e ao mesmo tempo - descubro eu, assim que chego, de verdade - exemplo puro da desigualdade. São Paulo é isso: é uma coisa aqui, outra acolá. É tudo e nada. Essa cidade transloucada que inclui, exclui e flui com uma rapidez assustadora. São Paulo faz 463 anos hoje mas qualquer um que preste um pouco de atenção sabe que cada pedaço de São Paulo comemora aniversários diferentes.

    A São Paulo do centro é esquecida, desvirtuada e porra louca. Na Mooca São Paulo é Juventus, é tradição, é casinha com porta na rua. Já na Vila Mariana, São Paulo tem 45 anos, gosta do boteco antigo e de andar no parque. Na Augusta, São Paulo é alternativa e descolada, com um ar rockeiro que engana. São Paulo em Pinheiros está nas casa dos 30, meio hippie de bicicleta mas sem dívida no fim do mês. Em Itaquera, São Paulo é vida louca, é cultura periférica das mais ricas. São Paulo do Higienópolis é higienista, é criança mimada protegida por muros invisíveis. Já em Guaianazes, essa mesma São Paulo é nordestina, sofrida, mas com aquele sorriso de quem sabe que merece mais. No Tucuruvi, São Paulo é interior - é metrô do lado da mercearia do seu João. São Paulo no Morumbi é solidão, é vegetação sem vida, é castelo isolado. Já na Avenida Paulista, São Paulo é MASP, é carro, é ciclovia, é pedestre pra todo lado. São Paulo é correria, é uma paradinha pra ouvir o moço tocando Caetano, e já corre de novo.

    Essa pra mim é São Paulo, mas pra você pode ser uma coisa completamente diferente. Não sei em qual São Paulo você vive. Talvez você nem viva na São Paulo que gostaria. Talvez não se importe em saber quantas São Paulos têm dentro da sua cidade. Mas eu queria te pedir uma coisa: tente descobrir. Tente olhar para os lados quando estiver passando naquela região que você não conhece ou naquela rua que te dá um pouco de medo. Observe a São Paulo que seu amigo, seu porteiro ou o motorista do seu ônibus vivem e aprende de uma vez por todas: essas São Paulos também são suas. Você pode não vê-las, mas elas estão lá e merecem sua atenção. Eu sei que é difícil, mas tente aceitar que essa cidade é muito grande pra você se acomodar e aceitar viver só no pedacinho que te convém.

    Eu prometo tentar também.