1. Eu não via mais poesia!

    segunda-feira, 18 de setembro de 2017

    O fim não veio porque você gostava de números e eu era apaixonada pela narrativa. Não porque você era "tanto faz" e eu sou completa decisão. Ou porque eu era expressão e você era silêncio.
    Não porque eu era seriedade (quem me dera) e você era riso frouxo. Muito menos porque eu era sempre futuro e você nem sempre presente. No fim, os caminhos se dividem por tudo aquilo que não rima, fazer o que?

    Tudo isso
    se tudo isso fosse
    o fim nao aconteceria.
    Mas nos dias claros dava pra ver:
    o que faltava em você
    era poesia.

    E amor pra mim é só isso: ser verso livre que, mesmo sem querer, rima no fim.

  2. quarta-feira, 26 de abril de 2017

    A gente começou a namorar desde a primeira vez que se viu. Mentira! A primeira vez não conta, porque faz mais de três anos e apesar dos vários registros fotográficos, aquela não é a Isabela que sou hoje. E aquele, de alguma forma, não é você.
    Então, a gente namorava desde a segunda vez que a gente se viu. Lembra? Faz tão pouco tempo mas já está tão longe na memória. A gente começou a namorar quando o garçom do bar achou que a gente já namorava e insistia pra você se declarar. Ali, na esquina do boteco mais frequentado pelos estudantes da USP, entre a sua timidez e a gargalhada, a gente começou a namorar. Já namorávamos pois em pouco tempo, já tínhamos uma lista imensa de piadas internas. Namoramos quando você resolveu que, no meio de um cigarro (que você nem gosta), fumado em pé (que eu não gosto), deveria me beijar. Foi tão bom e tão certo que logo ali, numa quarta-feira chuvosa de Janeiro, a gente já sabia que namorava. Namoramos porque dormimos juntos - e bem - numa cama de solteiro improvisada da minha nova casa. E também por que no outro dia de manhã, te dar tchau no portão já tinha gosto de saudade. Como é possível? A gente namora bem antes de oficializar as coisas. Todo mundo sabe quando está namorando, mas acontece tão rápido que a maioria de nós fica meio perdido neste começo de namoro tão gostoso mas totalmente desavisado. Não sei se existe outro jeito de se apaixonar a não ser namorando desde o primeiro encontro. Sempre achei que quando é amor, acontece muito fácil. Amor, quando acontece, tem que ser calmo, seguro e leve, bem parecido com o seu sorriso desnorteado quando acorda de manhã.


  3. São tempos difíceis. Todo dia um direito social é tirado. Todo dia meus amigos são discriminados. Todo dia eu ouço ódio disfarçado de opinião. Quase todo dia eu acho que não tem solução. Quase. Hoje não é um desses dias.
    Hoje é o dia em que uma amiga de infância me manda mensagem dizendo obrigada e pedindo desculpas. Há um tempo atrás, diz ela, eu comentei em uma postagem e de alguma forma ajudei-a a abrir os olhos. Hoje é o dia que ela contou pra mim como mudou de ideia. Não lembro da postagem, não lembro do meu comentário, mas me emocionei. Todo dia eu ouço que sou exagerada, que sou ingênua e que não adianta conversar, nada vai mudar nunca. Todo dia eu sinto que falo, brigo e luto em vão. Mas não é. Faço tudo isso pra que em meio a vários dias difíceis, numa quarta-feira chuvosa, alguém me lembre que não estou sozinha.

  4. sobre o que é nosso

    quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

    Hoje compartilhei uma foto nossa naquela famosa rede social de gente que se ama, se apoia e no fundo, fica alheio as vidas uns dos outros. Não sei o por quê, mas pela primeira vez na vida, assim que recebi os primeiros 'likes', senti que não tinha feito a coisa certa. De alguma forma, quanto mais pessoas descobriam aquela foto tão linda, menos ela parecia nossa. Dá pra entender? Cada coração ou comentário feito, mesmo que sinceros, parecia retirar um pedacinho daquele momento de dentro de mim. Pode soar até mais triste do que realmente é, mas nunca antes na vida eu senti tanto zelo por algo. Pensei em apagar a foto e fingir que nada tinha acontecido, mas era tarde demais.
    Só depois de encarar a tela do computador por horas é que percebi: todas as pessoas que vêem a foto, não estão nela, não estavam lá. Seu sorriso e meu beijo ali presentes, eram nossos, de mais ninguém. Só a gente sabe o que é olhar uma imagem tão simples mas sentir tanta coisa. Quando se trata de uma foto nossa, só os nossos corações e 'likes' fazem sentido. E você sabe disso. Agora eu também sei. E sei também que aquela nem era a minha foto favorita de nós dois. A favorita eu vou mandar revelar amanhã, e em um último esforço de preservação teimosa, vai permanecer guardada.

  5. Quando é que a gente sabe que ama?

    quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

    É quando tem vontade de se ver todo dia?
    Não não, isso é paixão.
    É quando a gente começa a ansiar a chegada e adiar a despedida?
    Acho que isso também é paixão.
    Mas e quando a risada do outro se torna o som mais agradável do mundo?
    Paixão.
    Que loucura! E quando é que a gente sabe que ama?
    Acho que é quando sente tudo isso com frio na barriga, mas sabe que o abraço do outro é o lugar mais seguro do mundo.


  6. segunda-feira, 30 de janeiro de 2017


    "Se tens um coração de ferro, bom proveito.
    O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

    José Saramago, em A segunda vida de Francisco de Assis.

  7. O que é São Paulo, afinal?

    quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

    São Paulo faz 463 anos hoje.

    São Paulo. Ah, São Paulo! Você era sinônimo de liberdade para uma Isabela sonhadora aos 15 anos e ao mesmo tempo - descubro eu, assim que chego, de verdade - exemplo puro da desigualdade. São Paulo é isso: é uma coisa aqui, outra acolá. É tudo e nada. Essa cidade transloucada que inclui, exclui e flui com uma rapidez assustadora. São Paulo faz 463 anos hoje mas qualquer um que preste um pouco de atenção sabe que cada pedaço de São Paulo comemora aniversários diferentes.

    A São Paulo do centro é esquecida, desvirtuada e porra louca. Na Mooca São Paulo é Juventus, é tradição, é casinha com porta na rua. Já na Vila Mariana, São Paulo tem 45 anos, gosta do boteco antigo e de andar no parque. Na Augusta, São Paulo é alternativa e descolada, com um ar rockeiro que engana. São Paulo em Pinheiros está nas casa dos 30, meio hippie de bicicleta mas sem dívida no fim do mês. Em Itaquera, São Paulo é vida louca, é cultura periférica das mais ricas. São Paulo do Higienópolis é higienista, é criança mimada protegida por muros invisíveis. Já em Guaianazes, essa mesma São Paulo é nordestina, sofrida, mas com aquele sorriso de quem sabe que merece mais. No Tucuruvi, São Paulo é interior - é metrô do lado da mercearia do seu João. São Paulo no Morumbi é solidão, é vegetação sem vida, é castelo isolado. Já na Avenida Paulista, São Paulo é MASP, é carro, é ciclovia, é pedestre pra todo lado. São Paulo é correria, é uma paradinha pra ouvir o moço tocando Caetano, e já corre de novo.

    Essa pra mim é São Paulo, mas pra você pode ser uma coisa completamente diferente. Não sei em qual São Paulo você vive. Talvez você nem viva na São Paulo que gostaria. Talvez não se importe em saber quantas São Paulos têm dentro da sua cidade. Mas eu queria te pedir uma coisa: tente descobrir. Tente olhar para os lados quando estiver passando naquela região que você não conhece ou naquela rua que te dá um pouco de medo. Observe a São Paulo que seu amigo, seu porteiro ou o motorista do seu ônibus vivem e aprende de uma vez por todas: essas São Paulos também são suas. Você pode não vê-las, mas elas estão lá e merecem sua atenção. Eu sei que é difícil, mas tente aceitar que essa cidade é muito grande pra você se acomodar e aceitar viver só no pedacinho que te convém.

    Eu prometo tentar também.